domingo, 23 de janeiro de 2011

Vânia Diniz entrevista Clevane Pessoa

O Espaço Ecos entrevista A escritora e Poeta Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Entrevista concedida à Vânia Moreira Diniz
1 - Querida amiga Clevane, você nasceu no importante Estado do Rio Grande do Norte, em São José do Mipibu guarda alguma recordação da cidade em que nasceu e gostaria de falar um pouco do período em que viveu lá?
R - Na verdade, apenas nasci lá, porque meus avós ali estavam: mamãe, que se casara aos quinze anos, por ser a caçula e muito inexperiente, foi dar à luz perto dos pais. Ela e papai moravam em Natal. Mesmo depois de adulta, tendo morado em muitas cidades e Estados, nunca fui lá. Noutro dia, pela Internet, é que a “visitei”.Ainda bem pequena, além de Natal, morei em João Pessoa(PB), Japurá(fronteira com a Colômbia), Manaus(AM), Recife(PE) e por último, fomos para a Ilha de Fernando de Noronha, onde, aos cinco anos, fiz minha Primeira Comunhão, na Igrejinha dos Remédios. Da Ilha, lembro-me muito bem e foi dela que viemos para Minas gerais. Completei sete anos ao chegar em Juiz de Fora. Meus pais adoravam mudanças, escolhiam um lugar que os atraía e nos comunicavam. Nós, as crianças, aprendíamos geografia e, naturalmente, um pouco de História, Ciência e Astronomia, ao vivo...Era muito divertido viajar tanto...
2 - Em Belo Horizonte a bela capital mineira, com foi sua chegada e os primeiros anos passados lá?
R - Vim morar em Belo Horizonte quando casei-me pela segunda vez, com o engenheiro Eduardo Lopes da Silva, em 1979. Aproveitava todo tempo livre para conhecer a cidade, mas estava no último ano de Psicologia, fazia estágios e trabalhava no INAMPS, era muito ocupada. Passei aqui três anos, e quando Gabriel, meu segundo filho completou três meses de vida, fomos para S.Luiz, a Ilha do Amor, terra de Gonçalves Dias, onde passamos seis anos. De lá para S. Paulo e depois para a capital do Pará, Belém. Somente retornei a Belo Horizonte em 1990, parando, por fim, com tantas andanças... Somente agora é que realmente estou conhecendo a cidade... Mas adoro viajar, o costume ficou enraizado em mim.
3 - Gostaria muito que falasse um pouco de sua família e da influência dela em suas decisões futuras?
R - Minha família era maravilhosa, éramos alegres e talentosos para isto ou aquilo... Tive pais incríveis, avançados para a época, por exemplo, quando a inglesa Mary Quant lançou a minissaia minhas colegas eram recriminadas pela família se a usavam e meu pai mandava encurtar mais, ”pois o que é bonito, deve-se mostrar”. Aprendemos, minha mana Cleone e eu, que a moral não está no modo de vestir apenas... Dançávamos muito - meu pai uma vez foi ao Rio de Janeiro aprendeu Twist e fazíamos bailinhos no qual ele e mamãe ensinavam a nova moda às minhas colegas e rapazinhos... Ele comprava-me dezenas de livros, incentivava a leitura mesmo de revistas em quadrinhos, quando a maioria dos adultos decretava que “gibi” fazia mal... Também adoravam Cinema - e os filmes impróprios para menores tinham o enredo contado por mamãe que apenas atenuava as cenas mais fortes. Aos domingos, nos levavam às matinèe, no Cine central em Juiz de Fora. Ela era grande missivista e eu naturalmente, a imitava, correspondia-me com os parentes e amigos distantes, o que me tornou sem preguiça para escrever, desde pequena, longas redações. Papai ensinou-me ortografia. Creio que minha mãe preparou-me, oralmente, para ser escritora. Contava “histórias de Trancoso”, cantava todas as músicas que aprendia, sapateava, ensinou-me a declamar. Sou a mais velha de seis: Cleone, Luiz Máximo, Cleber Franck, Nildo Roberto e Lourival Jr. Eles gostavam de ter crianças pequenas em casa e quando um estava grandinho, papai convidava mamãe a arranjar outro nenê, o que ela aceitava alegremente. O filho caçula, Juninho, por ser especial (Síndrome de Down), precisou de mais atenção então as gravidezes acabaram. Também criaram filhas adotivas.
Meu avô materno, paraibano, era jornalista e poeta. Ensinou-me a versificar. Eu sempre me senti a neta predileta... Mais tarde eu própria, nos Anos de Chumbo, trilhei o jornalismo. A primeira poesia brotou-me aos dez anos, em plena aula... O avô paterno era maestro e adoro música, embora nada toque. Qual a tia Terezinha, irmã de papai, pinto a óleo. Qual o tio Franck, irmão de mamãe, desenho, embora não tinha convivido tanto com eles, por causa das viagens. Somente voltei a natal, onde a maioria reside, já adulta.
4 - Escolheu a psicologia para atuar por mero acaso, por algum fato determinante ou era algo que estava já dentro de você?
R - Sempre fui escolhida como confidente de pessoas mais velhas às de minha faixa etária. Mamãe tinha esse dom também. Ainda por cima, ela fez-me sua confidente, desde criança... Eu adorava exercer todas as modalidades de jornalismo, mas quando separei-me de meu primeiro marido, o jornalista Messias da Rocha, pai de Cleanton Alessandro, meu primogênito, fiz cursinho e fui da segunda turma de psicologia do CES (Centro de Ensino Superior, em Juiz de Fora), pois o nascimento de Juninho motivou-me mais a fazer Psicologia e ajudá-lo. Sempre fui fascinada pelo comportamento humano, meus personagens não são criações aleatórias e sim explicadas em vários ângulos. Sempre li muito essa matéria, muito antes de cursar a faculdade. O último ano, fiz em Belo Horizonte, na FUMEC, pois me uni ao Eduardo no último semestre do curso.
5 - Quais foram os grandes mestres que lhe fascinaram?
R - Jesus Cristo (eu achava que era a queridinha do filho de Deus), meu pai, Sidarta (“Buda”). Depois Ghandi, a garça, Golda Meir, Martin Luther King, Mandela. Meus avós...
6 - Tem orgulho consciente e justo da vida que está trilhando?
R - Fico bastante contente com minhas vitórias, respeito as minhas lutas como um desafio a crescer ainda mais. Não sou vaidosa, quanto a premiações, por exemplo. Acho um golpe de sorte que um determinado texto, preenchendo os requisitos básicos de originalidade, correção ortográfica, tenham um estilo que vá agradar justamente àquele tal corpo de jurados entre tantos outros concorrentes. O contrário pode ocorrer: um escrito perfeito, por ser diferente, desagradar... Quando ganhei o prêmio ex-aequo de Primeiro lugar de conto, nos XXIII Jogos Florais do Algarve, em Portugal, por exemplo, eu ficava sorrindo sozinha: ”Primeiro Lugar”, repetia, contentíssima. Nem pude ir receber o prêmio, porque não consegui um patrocínio. Na premiação constava uma excursão à zona medieval de Portugal e três dias em Hotel. Para a viagem ficar menos cara, era preciso ficar pelo menos uma semana, então eu teria de arcar com os demais dias de hospedagem. Não houve ONG nem órgão governamental que quisesse ajudar. Disseram, de Brasília, que eu teria de ter entrado pelo menos com quarenta e cinco dias antes, com o pedido, da data da viagem. Mas tentei, até esgotar recursos. Recebi, do Governo do Faro, um prato de bronze lindíssimo, onde atrás agradeciam, à contista brasileira, “a presença entre nós”. Devem ter gravado julgando que iria. Com o prato, veio uma grande e pesada Medalha com o rosto de Samora Barros, o poeta homenageado e a coletânea. Todos os prêmios e troféus, valorizo, amo...
Também tenho a maior alegria de ter trabalhado com população carente, em especial com adolescentes e idosos, famílias, mulheres. Quando fui homenageada na Assembléia Legislativa de Belo Horizonte, no Dia da Mulher, no ano de 2001, já aposentada, recebi, emocionada, uma placa, mas o que fez-me chorar foi um adulto jovem, de cuja adolescência eu cuidara no Hospital Júlia Kubitscheck, onde criei e coordenei a casa da Criança e do Adolescente, dizer-me, após a cerimônia: ”Clevane nenhum de nós que passou por você, deu pra coisa ruim”. Na realidade, são todos jovens de bem, líderes e empoderados, em franco progresso ou pobreza digna...
7 - A Revolução de 64 marcou muito sua juventude? Pode relatar algum fato mais doloroso nessa época de incertezas?
R - Vivi muitas dolorosas experiências, por exemplo, com a prisão de colegas. Um deles, o astrônomo Roberto Guedes era noivo da atriz Marta Sirimarco, que escrevia a coluna de Teatro e foi um horror sabê-lo desaparecido, acompanhar a luta da jovem para conseguir-lhe uma fuga. Muitos anos depois, abri um grande Jornal e lá estava ele, falando de seus queridos astros e estrelas... Muitas pessoas vinham a mim contar torturas, porque papai era militar, tentando ajuda, no entanto ele não compactuou com o regime. Era sargento telegrafista, ficando no seu gabinete, mas quando foi promovido a tenente e teve de sair do casulo, pediu a reforma, mesmo tendo curso até major. Ele, que sempre foi muito bondoso com crianças e animais, adoeceu e teve de ser hospitalizado. Por questões de ética militar, jamais nos contou nada. Eu levava, sem problemas, para almoçar lá em casa, jovens que recolhia, às vezes sem lugar para ir. Um dos lugares onde se escondiam durante o dia, era a galeria de Arte Celina, mantida pela família Bracher, em homenagem à artista morta. Penso que os “milicos”, não se lembravam de procurar “subversivos” ali... Muitas vezes, como repórter, fui ameaçada, por exemplo, quando, num evento da Escola Federal de Engenharia, cheguei a um lançamento de livros do Carlos Heitor Cony e do Poerner, com meu amigo Cláudio Augusto de Miranda Sá, fomos recebidos por metralhadoras na mão de jovens PM’s. Eu sempre mantinha, nesses momentos críticos, um facies de alienada e nos deixaram ir. Fomos diretamente para o hotel onde estavam. Fizemos uma entrevista e tanto. Eu sempre publicava tudo. A “Gazeta Comercial”, onde escrevia, era a linotipos, então eu ia à gráfica e entregava as matérias diretamente a um linotipista, o Zequinha, de quem era comadre. Quando Rubens Braga, Vinicius de Moraes e Fernando Sabino, bastante reprimidos no Rio, estiveram em Juiz de Fora, o diretor, temeroso das minhas clevanices, disse que não os entrevistasse. Eu queria, inclusive, fotos. Não iria perder a chance de estar com meus ídolos. Liguei então para a redação. Atendeu-me o “Seu” Théo Sobrinho, o dono do jornal. Eu falei: ”Seu Theo, o Vinicius chegou”. Ele: ”Quem o Ministro?” E eu”: Sim, o Ministro”. O fotógrafo chegou e eu conversei por muito tempo com o trio, ficando encantada porque o Vinicius me elogiou, galante, os longos cabelos, Braga a juventude e Sabino, a “inteligência”. O redator chefe, Sr. Paulo Lenz, irmão do diretor, vibrava com minha “coragem”, talvez a inconseqüência inocente da juventude...
Uma vez um advogado pediu-me, cheio de mistérios, que fosse visitar o irmão machucado, fazer-lhe companhia. O rapaz estava engessado, muito ferido, cheio de alucinações. Haviam conseguido retirá-lo, após tortura. Passei uma tarde dando uma de psicóloga, muito antes de entrar nessa faculdade, horrorizada, penalizada... Jamais contei a meus pais essa visita, para não preocupá-los. O pai de uma amiga também desapareceu e quando a mãe dela soube das circunstâncias de sua tortura e morte, urrava, dizendo que o marido era um bom homem e que aquilo era “um insulto de Deus”, uma injustiça... Eu, pessoalmente, jamais fui perseguida abertamente, embora sempre tivesse alguém a vigiar-me, em várias circunstâncias.
8 - Como surgiu a literatura de forma definitiva em sua vida?
R - Penso que já na escola, queria ser escritora, minhas redações iam “para livros de ouro”, eram afixadas no pátio, e, em Itajubá, sul de Minas, onde morei dos doze aos dezesseis anos, fui escolhida para redatora–chefe de um jornal da Escola Sagrado Coração de Jesus, (Irmãs da Congregação da Previdência) chamado Voz das Mil. Também tive uma crítica literária publicada na revista da congrgação. Como uma premonição, chamei-a... ”Sapatilhas e Botinas”.
Ao retornar a Juiz de Fora, enviei textos a um concurso de crônicas. Passei dias me torturando, achando que nem os leriam porque os temas eram Operária, Satélite e um outro. Para o primeiro, escrevi sobre o trabalho materno, a mãe, “uma operária completa”, em vez de falar das mulheres que trabalhavam nas muitas fábricas existentes na cidade. Sobre “satélite”, em vez de falar do espacial, falei de pessoas “puxaquistas militantes”, que gravitam na órbita de alguém para favorecer-se. E ganhei o primeiro lugar, troféu Domervilly Nóbrega, com Operária... O radialista, mais tarde professor de jornalismo, José Carlos de Lery Guimarães, clamava pelo programa: ”senhor Clevane, por favor, apareça, comunique-se, o segundo e o terceiro lugar já apareceram. Precisamos marcar a entrega de prêmios”. Cleonice Rainho, se não me engano e Marilda Ladeira, foram classificadas, eram mulheres feitas, escritoras já conhecidas, o que me constrangia. A partir daí, minha carreira de escritora ficou definida. Mais tarde, estudei, no Vice-Consulado de Portugal, Literatura Portuguesa, com Cleonice Rainho e lhe contei isso. Ela achou muita graça... Um dia, reuni minhas crônicas e levei às redações dos jornais da cidade. Fui aprovada, escolhi a Gazeta Comercial, onde ganharia menos, mas poderia fazer “de um tudo”. E adorei.
9 - Seu momento de criação vem de algum acontecimento específico ou pode surgir repentinamente?
R - Às vezes, um personagem chega e se instala, pede-me que conte sua história, insistentemente, fico inquieta enquanto não sento e o imagino, para descrever. Noutras, uma história “lateja” até que a desenvolvo. Não raro, o protagonista muda tudo que eu tinha planejado. Muito observadora, costumo ver acontecências e depois as reconto, com fantasia e criatividade. Não há nenhum método, mas escrever é sempre um prazer, nenhum sofrimento. Se pudesse, escrevia sem parar. Poesias, é só apaixonar-me por uma palavra, que elas se desenrolam da meada poética. É só experenciar uma emoção ou a de outrem, idem... Trovas são mais elaborada, sextilhas e sonetos, idem. Mas transito livremente da poesia concreta ou processo, para os versos brancos, a prosa poética. Gosto tanto de haikais, minipoema e agora Poetrix, como dos longos e das crônicas. Na Gazeta Comercial tinha, por exemplo, uma coluna diária, chamada Clevane Comenta e, aos domingos, uma página inteira, de Artes e Letras, onde fazia crítica literária, colocava entrevistas, etc. E era só sobrar espaço, que eu escrevia uma poesia... Só ia lê-la no outro dia, quando saia a tiragem... Quando estou triste, escrevo mais.
10 - Pode citar algum fato curioso envolvendo seu primeiro nome?
R - Sim, muitos, mas quando eu estava na Gazeta, achavam que eu era homem, mesmo meu nome sendo feminino, a meu ver. À época da minissaia (nos Anos 60), escrevi um artigo na revista “O Lince” (hoje extinta), sobre a nova moda. O desembargador Vasques Filho, de Fortaleza, Ceará, mandou-me longa missiva, de ”homem para homem”, comentando como se sentia vendo pernas de fora e desejava que “Oxalá as mulheres em breve, passassem a vestir-se como Evas, ou seja, com nada”, algo assim. Respondi num papel cor-de-rosa, dizendo-me uma senhorita. A partir daí, nos correspondemos, ele se lembrando da Juiz de Fora que conhecera e mandando-me lindos cartões, pois era aquarelista. Quando eu ia nascer, papai queria um Cleber. Não havia ultrassonografia, então nasci e ele escreveu numa lista, nomes iniciados por “Cle”. Mamãe e ele optaram por Clevane, por ser diferente. E tive de ser, à força dessa sinalização... Mamãe, que era parteira, muitas vezes dava seu nome, a pedido das parturientes, às meninas (Terezinha). Quando já havia uma, resolviam dar o meu ou o de minha irmã Cleone. Em sites de busca, já vi algumas “Clevane”, todas mais novas que eu. Jamais encontrei pessoalmente, alguma. Curiosamente, meu segundo marido, antes de mim, namorou uma Cleivan... Sou chamada de Cleovane, Cleivane, Clivane, etc. Na Internet há uma poeta Clivânia. Adoro meu nome, que me distingue e marca.
11 - Você nasceu numa cidade pequena do Nordeste e foi criada na tradicionalista Minas Gerais, pelo menos há alguns atrás, contrastando com a atuação de uma escritora, poeta e mulher. Sofreu algum tipo de preconceito?
R - Nunca experenciei preconceitos, sempre coloquei-me lado a lado com o homem, lutei e luto pelos direitos da Mulher, e a educação que recebi deu-me sempre muita segurança. Tanto o Nordeste quanto Minas são tradicionalistas. Meus pais eram rigorosos apenas em certas questões: caráter, honestidade e virgindade. Acho que fui a ”penúltima donzela” até casar-me... O papel da escritora é usar a palavra como sua arma, na defesa do belo, do amor, sim, mas principalmente, em prol das militâncias sociais, das denúncias, dos exemplos edificantes...
12 - Sua vida de psicóloga ajuda na composição de seus “cantos”?
R - Muitíssimo, porque a pessoa, com seus significantes e significados, bem como a palavra, instrumento deles, me fascinam e oferecem suas múltiplas faces para a descrição verbo-poética.
13 - O que o desenho, o colorido significou para você e sei que seus leitores gostariam de saber desse seu lado de “artista plástica”, entre tantos talentos.
R - Sempre desenhei, mas foi aos doze anos que comecei a desenhar mulheres, porque uma prima o fazia e eu me encantei quase ludicamente, ao ver que podia representar a figura humana também além as coisas. Uma professora, no Ginásio Estadual de Juiz de fora, Nanci Ventura Campi, recomendou-me a Escola de Belas Artes Antonio Parreiras. Adorei e falei com papai, que imediatamente foi lá sondar o ambiente para sua princesinha, e colocou-me como aluna do presidente, Clério de Souza, que assinava como Pimpinela. Ele, rigoroso, ensinou-me a desenhar em perspectiva, sombra e luz, usando o fusain, o crayon, em papel cinza, que era usado nos açougues para embrulhar carne. Até hoje, o reflexo, a sombra e a luz me fascinam. Meu primeiro livro editado chama-se Sombras feitas de Luz(*). O segundo, Asas de Água, possui quatro ilustrações minhas a bico-de-pena e a capa é de meu filho, Allez Pessoa, que herdou meu dom... Fiz, aos quinze anos, uma tela a óleo com professora, mas saí logo da sua escola, por não suportar cópia, sem poder criar. Autodidata, a partir daí, fiz muitos quadros, que andam pelos brasis, porque viajei muito. Fiz muitos posterpoemas, para exposições. Meu estilo literário é sempre cheio de nuances, como se eu desenhasse escrevendo.
Tenho ilustrado livros, criei o Projeto Poesia no Pano, desenhando e escrevendo diretamente em páginas de tecido e montando os livros artesanalmente. Atualmente desenho uma capa e ilustro um livro de contos.
14 - Quem é Clevane Pessoa, a psicóloga, a escritora, a poeta?  Conseguiria em algumas frases defini-la?
R - * A psicóloga: uma pessoa que gosta de - e respeita - pessoas, sem preconceitos, atenta na relação de ajuda, para que cresçam, se modifiquem para ser mais fales pela justiça social, pelo empoderamento da mulher, dos direitos humanos, das minorias necessitadas. Gosto de criar dinâmicas de grupo, técnicas para manejo, fazer oficinas, dar palestras. A relação de ajuda faz-me muito feliz.
* A escritora: sempre a escrevinhar, com mais de dez livros para editar, sem nenhuma perspectiva de parar de criar, um dia...
* A poeta: minha essência reside no castelo mágico da Poesia. Estou e sou perenemente em/cantada por essa feiticeira do Bem...
Espaço/Ecos - Agradecemos, sua linda entrevista e a oportunidade de ouvi-la e de saber um pouco mais de você.
R - Vânia: a oportunidade que você me deu, não tem preço: adorei rememorar-me (reenamorar-me de mim?). Quantas vezes, preocupadas com os outros esquecemos um pouco de nós mesmas? Agora, acabo de reenrolar o fio multicolorido de minha vida, novelo com cinqüenta e sete anos, renovando-o... Agradeço eu, a você e ao Espaço Ecos.

Vânia Diniz:


Clevane Pessoa

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